terça-feira, 15 de junho de 2010

A Aristocracia e seus Críticos

Miguel Morgado, 2008

O livro está dividido em três partes: na primeira Morgado disseca o conceito de Aristocracia, na segunda toma os três principais autores modernos que negam o regime aristocrático, como Maquiavel, Locke e Hobbes; e, finalmente, a terceria parte, conclusiva, na qual analisa os Federalistas norte-americanos e sua preocupação com o governo republicano, a criação de um regime misto que tenha as virtudes aristocráticas conjuntamente com a representatividade permitida pela ordem democrática. Caminhamos para o que denomina "unidades de soberanias", a gênese do governo mundial que está no horizonte.

Os filósofos clássicos desde a origem enxergaram as três formas puras de regimes políticos: monarquia, aristocracia e democracia e suas variações degeneradas: a tirania, a oligarquia e a oclocracia. Sua narrativa começa com o debate entre Jefferson e John Adams, que afirmava que a aristocracia era a nobreza em geral e que nenhum teórico ou homem de Estado pode dispensar a elaboração teórica do governo dos melhores.

A Revolução Francesa é um momento histórico fundamental a partir do qual o homem europeu se autorizou a viver na história. O sucesso dos regimes democráticos nos coloca perante a escolha entre a democracia e as tiranias mais ou menos repressivas, definidas cada vez mais como uma negação da democracia liberal ocidental. O direito natural clássico corrobora o ideal do regime político pensável da aristocracia, tida como o melhor de todos, pois neste regime o poder estaria com os mais virtuosos e a coletividade a ele subordinada voluntariamente, por ver nos governantes pessoas egrégias.

O regime republicano é essa forma mista que garante, a um só tempo, a legitimidade da democracia e a escolha dos melhores para o governo, ficando o ato de governar longe das massas, entre os períodos eleitorais. A verdadeira democracia não pode ser a democracia direta, o que leva à prática de cativar a multidão com benesses infindáveis em troca de votos. O ato de governar, assim, deixou de ficar longe do nível ínfimo das massas, para tentar permanentemente atender a todos os seus apetites.

É uma corrupção da democracia acreditar que não há desigualdade essencial entre os cidadãos. A realização dos valores democráticos pressupõe a utilidade de hierarquia. O regime atual não pode se manter como misto porque o direito natural clássico foi abandonado, originando a ameaça totalitária sempre a rondar. A realidade da supertributação, o excesso de regulação, até mesmo a unidade de soberanias, tudo ameaça a igualdade almejada, aquela diante da lei. O ato de governar está cada vez mais condicionado pela multidões. Vivemos mesmo uma forma de oligarquia burocrática, que se espalha pelo mundo.

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Direito Natural e História

Léo Strauss, 1950

A preocupação central de Leo Strauss era identificar o que deu errado no Ocidente, o que ficava evidenciado pelas duas Grandes Guerras Mundiais e a existência de Hitler. Em paralelo a Voegelin e Michel Villey, identificou a brusca mudança do sentido do direito natural como a causa primeira das grandes tragédias do século XX.

Até então, havia a idéia herdada de Platão e Aristóteles do justo por natureza e que acreditava-se que a ordem política espelhava a realidade da ordem da alma individual. O direito natural era uma realidade objetiva, um direito objetivo. A politéia deveria ser buscada primeiro na alma individual, e o direito retirado da observação do homem em sociedade, de acordo com a lei natural. A partir de autores como Maquiavel, Grocius e Hobbes, o direito natural passará a ser visto como direito subjetivo fundado na razão.

Strauss identificou em Epicuro o pensador mais relevante a inspirar as tiranias do século XX. Terá sido esta talvez a sua mais espetacular conclusão. Strauss coloca-se radicalmente contra o positivismo jurídico que rejeita o direito natural, o que significa que todo direito é determinado exclusivamente pelos legisladores e tribunais. Vê-se que o direito foi deslocado de qualquer fonte metafísica, passando a fundá-la exclusivamente na razão.

Strauss centra sua crítica em três autores: Tomás de Aquino, Locke e Burke. Criticou a Declaração de Independência dos EUA por seu sentido estóico-epicurista, em oposição ao verdadeiro cristianismo. Para ele, a Declaração era o que a modernidade tinha de pior. Os homens não foram criados iguais e essa era a essência do engano. Critica Max Weber e sua tentativa de fazer ciência social isenta de valores, estabelecendo um dos caminhos que levou ao relativismo jurídico.

O historicismo é filho do ideal coletivista, tanto do comunismo quanto do nazismo. Strauss lembra que o direito natural só existe por haver princípios imutáveis de justiça. Sem estes a lei corrompida adquire a autoridade da lei natural, como evidenciou-se na Alemanha nazista. Quando tudo cai no relativismo historicista desaparecem os princípios imutáveis e tudo é pemitido, valendo a vontade arbitrária do governante. Deus desaparece. O historicismo leva necessariamente ao niilismo.

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quinta-feira, 13 de maio de 2010

America's victory in Vietnam

Phillip Jennings, 2010

Os americanos venceram a Guerra do Vietnã. Esta é a tese do livro de Phillip Jennings, entrando na onda do revisionismo histórico. Sua pretenção é polemizar com os construtores dos mitos sobre o conflito, incluindo jornalistas, políticos e acadêmicos, que não só criaram, mas lucraram com o mito.

Trata-se de uma obra bem-pesquisada, revisando os mitos centrais da Guerra do Vietnã no contexto histórico. Não é um história compreensiva da guerra, e nem pretende ser, mas uma crítica à forma negativa e enganosa como foi mostrada até hoje.

Os dois principais mitos atacados por Mr Jennings é que a Guerra do Vietnã era imoral e invencível. Estas são as principais falácias da visão liberal do Vietnã e os argumentos são reciclados a cada guerra americana desde então. Nenhuma das idéias é verdadeira.

O argumento da imoralidade repousa na idéia de que o governo sul vietnamita era corrupto e sem solução, que seu povo não queria os americanos lá, que o conflito era uma guerra civil e que os Estados Unidos estavam desempenhando o papel de uma potência colonial. Retomando a origem e a condução para a guerra, Jennings mostra que nenhum destes argumentos tem substância e comparado ao totalitarismo brutal construído no Vietnã do Norte por Ho Chi Minh, querido pela esquerda, as liberdades da maioria dos sul vietnamitas era positivamente Jeffersoniana.

Os críticos começaram a dizer que a guerra era invencível praticamente desde o início e quando Saigon caiu em 1975, eles clamaram que estiveram certos o tempo todo. Jennings demonstra que em cada evento crítico do conflito, da introdução das forças americanas em 1965, para a ofensiva Tet em 1968, para a ofensiva norte vietnamita de 1972, o inimigo sempre sofreu pesadas perdas e levou anos para se recuperar. A guerra não era apenas possível de vitória, ela foi ganha, até os democratas no Congresso retiraram os fundos para a campanha em 1974 e deixaram os aliados entregues ao seu próprio destino. Os que clamam pela imoralidade, cometeram o ato mais imoral da guerra.

Jennings também contesta o mito de que os veteranos do Vietnã se tornaram viciados em drogas pelo desespero da guerra. O autor serviu como piloto de helicóptero no Vietnã e depois como "Air America", na operação da CIA no Laos. Este último esforço foi descrito pela esquerda como uma guerra secreta no Laos apesar de ser conhecida no Congresso e de que não teria sido necessária se não fosse as flagrantes violações norte-vietnamitas na neutralidade do Laos.

O livro fornece uma série de fatos documentados para enfrentar os construtores de mitos que continuam a ignorar as causas e curso da Guerra do Vietnã. O livro conclui que o envolvimento dos Estados Unidos foi justo e heróico.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Assim Falou Zaratustra

F. Nietzsche, 1885

O livro centra-se na figura de Zaratustra, um sacerdote persa nos primeiros tempos da instalação do zoroastrismo. Utiliza uma linguagem poética, fazendo uma sátira do Novo Testamento, marcando um dos propósitos de Nietzsche, uma crítica à moral judaico-cristã.

O tema central da obra é o super-homem. O Homem é uma espécie de transição entre o macaco e o super-homem, o homem auto-suficiente que consegue o poder. Não é um fim resultante da pessoa, mas uma jornada para o auto-domínio.

O super-homem é aquele que:

1) Aceita a morte de Deus
2) Conduz a própria existência como espírito dionísico
3) Supera a angústia do passar do tempo vivendo uma vida sob a insígnia do eterno retorno
4) Coloca-se, em relação ao mundo, numa postura de desejo de potência, ou seja, não se deixa determinar por qualquer objetividade, mas atribui aos objetos o significado que mais lhe agradar

O que anima o homem é o desejo de poder, um componente de sua própria natureza. Tudo que fazemos é expressão desse desejo , e contrasta com o viver para a procriação, prazer ou felicidade. O desejo de poder é a luta do homem contra seu ambiente e sua razão para viver nele.

A morte de Deus, núcleo da reflexão de Nietzsche, indica o progressivo desaparecimento da cultura do homem moderno de todas as filosofias, religiões ou ideologias que no passado exerciam a tarefa de iludi-lo ou consolá-lo. O super-homem não necessita de ilusões tranquilizantes porque com o espírito dionísico aceita a vida com o seu caos intrínseco e ausência de sentido.

Matar Deus significa libertar-se das cadeias do mundo sobrenatural, ser capaz de viver sem falsas esperanças (imortalidade da alma, paraíso), aceitando com alegria a vida na sua totalidade, incluindo a morte. Isso significa ficar preso à terra: o homem novo é aquele que, longe de querer entender o significado do mundo, consegue impor os seus significados. Ele é a medida de todas as coisas, porque dele, de sua vontade de potência, cada coisa adquire seu sentido.

O super-homem está além da racionalidade, despreza todo valor ético, vive no mundo dionísico, reconhece o engano inerente a todas as filosofias, percebe o passar do tempo como o eterno retorno.
Outro conceito explorado é o do eterno retorno. Nietzsche defendia a idéia de que todos os eventos que aconteceram serão repetidos infinitas vezes. Diante do conhecimento de que o homem repetirá cada ação da mesma forma como foi executada anteriormente, o super-homem será impulsionado a não ter arrependimento e amar a vida, libertando-se das amarras da moral judaico-cristã.

A crítica ao cristianismo tem como eixo condutor os valores de bem e mal e a crença na vida após a morte. A complacência é um obstáculo ao super-homem.

Fontes:
http://en.wikipedia.org/wiki/Thus_Spoke_Zarathustra
Nicola, Alberto. Antologia Ilustrada de Filosofia

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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Occidentalism

The West in the eyes of its Enemies
Ian Buruma e Avishai Margalit, 2002

Neste estudo de dois séculos das idéias anti-ocidentais, Buruma e Margalit afirmam que a hostilidade dos jihadistas islâmicos contra os Estados Unidos nada mais é do que a mais recente manifestação de uma longa reação global à modernidade ocidental. Eles denominam o conjunto de imagens preconceituosas e distorcidas do ocidente por seus inimigos de "ocidentalismo", uma fenômeno originário do próprio ocidente, no fim do século XVIII e que posteriormente se espalhou para o Oriente Médio, Ásia e em torno. O romantismo alemão, reagindo ao iluminismo e ao surgimento do capitalismo, expressaram sua reação a uma Europa fria e racional que se manifestava pelo imperialismo, urbanismo e cosmopolitismo.

Temas similares apareceram no ocidentalismo sob outras variantes: a vida urbana pecadora e sem raízes, a corrupção do espírito humano no materialismo, a sociedade dirigida pelo mercado, a perda da comunidade orgânica, a glória do auto-sacrifício heróico em superar a timidez da vida burguesa. O liberalismo ocidental é uma ameaça __ ao fundamentalismo religioso, reis-sacerdotes e coletivismo radical __ porque ela despreza a pretensão de uma utopia heróica.

Ultimamente, a figura que surge não é do conflito de civilizações, mas a tensão profunda que atravessa civilizações, religiões e cultura. O que o ocidente pode fazer sobre o ocidentalismo não é claro e os autores não se arriscam a fornecer uma resposta, mas o estudo mostra que independente do que aconteça no fim, terá sido um drama histórico e violento.

Orientalism

Edward Said, 1978

Orientalism foi um livro influente sobre os estudos pós-coloniais. O termo refere-se a um conjunto de falsas acepções que orientam as atitudes dos ocidentais em relação ao Oriente Média. Há uma sutil e persistente preconceito euro-centrico em relação os árabes-islâmicos e sua cultura. Ele argumenta que uma longa tradição de imagens romanceadas e falsas da Ásia e Oriente Médio na cultura ocidental serviu como uma justificativa implícita para as ambições coloniais e imperialistas dos europeus e americanos. Ele critica também as elites árabes que internalizaram as idéias orientalistas na cultura Árabe.

Os Estados Unidos vêem os muçulmanos e árabes apenas como fornecedores de petróleo e terroristas potenciais. Pouco se entendeu da densidade humana, da paixão da vida árabe-muçulmana, inclusive por aqueles que deveriam descrever a cultura. O resultado é uma caricaturarização do mundo islãmico.

Orientalismo é uma doutrina política voltada para o Oriente porque o Oriente é mais fraco do que o Ocidente, relacionando esta diferença com sua fraqueza. Como aparato cultural é agressão, ativismo, julgamento, mentira e conhecimento. A principal tese é que não se trada de uma má compreensão, mas um representação deliberada, de acordo com uma tendência, em uma específica conjetura histórica, intelectual e econômica.

O trabalho é fortemente influenciado por Chomsky, Foucalt e Gramsci e Said argumenta que o trabalho reflete a realidade contemporânea e suas implicações políticas. É classificado como um trabalho pós-modernista e pós-colonial que assume uma atitude cética sobre a representação.

Novas Geopolíticas

José William Vesentini, 2000

A problemática da geopolítica não pode ser vista como uma única disciplina acadêmica, mas como um campo de estudos.

Visentini comenta as novas geopolíticas que surgiram a partir dos anos 80 e como se dará a disputa pela hegemonia mundial no novo século. Novos atores entram em consideração: ONGs, empresas multi ou transnacionais, blocos regionais, etc. Novos campos de luta são agora vistos como importantes para a compreensão das relações de poder no espaço mundial: meio-ambiente, direito das mulheres, minorias étnico-nacionais, grupos com diferentes orientações sexuais, etc.

O século XXI, marcado pela Terceira Revolução Industrial, a globalização e uma multipolaridade complexa, é aqui explorado a partir de confronto de idéias entre as teorias de Huntigton, Thurow, Kennedy, Brzezinski e outros.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

The Clash of Civilizations

The Clash of Civilizations, 1996
Samuel P Huntington

Clash of Civilizations é uma teoria proposta por Huntington, que a cultura e a identidade religiosa serão a fonte primária de conflito na era pós-guerra fria.

Esta teoria foi formulada inicialmente em uma aula em 1992 no American Enterprise Institute, posteriormente desenvolvida em artigo para a Foreign Affairs em resposta ao livro de Francis Fukuyama "The End of History and the Last Man".

Huntington começa sua investigação pesquisando as diversas teorias sobre a natureza da política global pós-Guerra Fria. Alguns teóricos argumentam que direitos humanos, democracia liberal e economia de livre-mercado se tornaram a única alternativa ideológica para as nações, especialmente Fukuyama que argumentava que o mundo alcançara o "fim da História" no sentido hegeliano.

Huntington acreditava que enquanto a época da ideologia havia terminado, o mundo revertera para um estado de relação baseado em conflitos culturais. Em sua tese, ele argumenta que o primeiro eixo de conflito no futuro será sobre eixos culturais e religiosos. Ele propõe que o conceito de diferentes civilizações, como o mais alto nível de identidade cultural, será extremamente útil para analisar os potenciais conflitos.

Ele lista as seguintes possíveis civilizações:
- Western : EUA, Canadá, Europa e Oceania
- Ortodox: Rússia, leste europeu, Grécia
- Islamic: norte da África, Sul da Ásia
- África: metade sul do continente africano
- América Latina: incluindo México
- Sinic: China, Vietnã, Coréia
- Hindu: Índia
- Budista: Tibet, Mongólia, sudeste asiático
- Japonesa

Posteriormente o autor considerou a Etiópia e o Haiti como "países perdidos" e Israel como uma civilização própria, bem semelhante à ocidental.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Affirmative Action Around the World: An Empirical Study

Thomas Sowell, 2004

Ação afirmativa é o tópico político mais controverso da era pós-direitos civis. Ela originou-se como uma solução temporária de escopo definido para corrigir distorções em relação a minorias baseadas em raça, sexo, etnia, etc. Na prática, elas expandiram para um sistema de metas perversas, cronogramas e cotas numéricas para atingir iguais resultados e não oportunidades iguais.

Sowell examina o resultado da ação afirmativa globalmente, analisando os exemplos dos Estados Unidos, Índia, Malásia, Sri Lanka e Nigéria, procurando relacionar a similaridade nas políticas destes país focando principalmente nos resultados atuais. São eles:

  • Encorajam grupos não-preferenciais a se definirem como preferenciais para tomar vantagens das políticas afirmativas.
  • Tendem a beneficiar inicialmente os em melhor vantagem nos grupos preferenciais (ex: ricos negros), muitas vezes em detrimento dos menos favorecidos nos grupos não-preferenciais (ex: brancos pobres).
  • Reduz os incentivos para ambos os grupos em ter a melhor performance possível porque será não necessário para os grupos preferenciais e inútil para os não-preferenciais, resultando em perdas para a sociedade como um todo.
  • Geram animosidade entre os grupos preferencias, assim como nos próprios grupos preferenciais, cujo principal problema em alguns casos é a própria inadequabilidade combinada com o ressentimento contra os grupos não-preferenciais que consistentemente os superam.

Uma das principais consequências negativas da ação afirmativa na educação superior nos Estados Unidos é a diferença abissal no resultado escolar dos estudantes admitidos em escolas e universidades de elite com baixo padrão de admissão. Eles deixam de ter um excelente rendimento em escolar que estariam melhor ajustado a suas capacidades para se tornarem mal distinguidos em escolas que não estavam adequadamente preparados.

Questiona que as noções, razões e pressupostos da ação afirmativa são adotadas sem ser testadas empiricamente. Quando são testados, geralmente não passam e as evidências das consequências negativas são suprimidas ou ignoradas. Um exemplo é o alto rendimento dos americanos-asiáticos que conseguem rendimento superior apesar da baixa-renda de seus integrantes.

Fonte: http://www.intellectualconservative.com/article3873.html

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Anamnesis

Eric Voegelin, 1966

A humanidade passou uma boa parte do seu tempo em desordem social, cultural e filosófica que resultou invariavelmente em guerras, fome e pestes. Por outro lado, experimentou períodos de construção social ordenada. Infelizmente, estes períodos foram de curta duração e tipicamente seguido por desconstrução da realidade por seres humanos desorientados.

O homem possui inteligência e habilidade para a razão. Ele busca a verdade da realidade, a abertura para o questionamento. Os gregos possuíam dois termos para razão, nous e ratio: nous, é a busca não apenas do conhecimento mas o conhecimento para o divino, o transcendente; ratio é o fator direcional da tensão da consciência como a busca por uma base que a ordene e dê estrutura como uma pesquisa aberta. Juntos, estes atributos intelectuais ordenados para a divindade inerentes ao homem complementam-se, onde ratio é a resposta existencial do nous para a questão. Este desejo intrínseco do homem, derivado da mistura da razão e revelação (o logos), em sua experiência exitencial da tensão entre o imanente e o transcendente, nos leva a perguntar, a questionar.

Anamnesis é o fundamento do pensamento de Voegelin sobre a questão da consciência humana, mas é no contexto de suas várias discussões que as questões relacionadas com Deus, homem, lei, política, psiciologia e história são encaminhadas. Lendo os ensaios que compõe o livro que o leitor recebe a iluminação para compreender o trabalho de Voegelin. Estas pequenas vitórias intelectuais são importantes porque fornecem energia para continuar a jornada de superar a montanha linguística que Voegelin colocou na frente dos leitores. Nestes trabalhos encontramos a consciência do ser humano completo, para sempre tentado pela tentação da revolta egoísta, da deformação da filosofia-escolar que não permite o questionamento nem permite o debate, e o problema da existência contemporânea deformada e restritiva.

Voegelin explica em um dos ensaios o surgimento do nous, o resultado do esforço filosófico dos gregos para analisar a desordem social de sua época e o entendimento da auto-consciência, argumentando que este foi um evento épico que constituiu o significado da história de deu nascimento ao conceito de filósofo.

Dar razão à tensão de ordem e desordem de nossa existência, sob a luminosidade do diálogo noético e discurso é o grande feito dos filósofos clássicos. Esta época estabeleceu a vida da razão na cultura ocidental em uma continuidade até o nosso tempo; não pertence ao passado, mas a época em que vivemos. Voegelin não estava apenas aberto à crítica, mas convidava-nos, e em mais de uma ocasião seu trabalho foi "indeterminado" por novas descobertas. Ele abominava a ideologia e nunca tentou construir um sistema fechado que fosse protegido contra críticas; seu único objetivo era olhar adiante para uma nova oportunidade de descoberta e explicação. Voegelin dedicou sua vida a buscar a verdade das coisas.

Nenhum filósofo, certamente no século XX, explicou melhor a deformação perniciosa da ideologia da era pós-moderna, e nenhuma coleção de ensaios é melhor preparada para apresentar ao leitor curioso o essencial de Voegelin, um homem que compreendeu o significado da alienação, o afastamento do homem da presença sob Deus, um conceito que estabeleceu os fundamentos das desordens do homem.

Fonte: http://www.readysteadybook.com/BookReview.aspx?isbn=0826207375

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domingo, 25 de abril de 2010

Reflections on the Revolution In Europe

Reflections on the Revolution in Europe: Immigration, Islam, and the West

Christopher Caldwell, 2009

A principal tese do livro é que quando uma cultura insegura, maleável e relativista (Europa) encontra uma cultura confiante e forte em doutrinas comuns(islã), é geralmente a primeira que se modifica para "encaixar" na segunda.

Caldwell argumenta que a imigração em massa de muçulmanos está alterando a cultura européia por causa da forte negativa dos muçulmanos em assimilar a cultura de sua nova terra. Os imigrantes muçulmanos estão pacientemente conquistando as cidades européias, rua por rua.

O debate sobre a imigração na Europa é uma que o continente não pode fazer abertamente porque qualquer um remotamente crítico do islã é rotulado como islãmofóbico. Os cidadãos europeus _ assim como seus líderes, artistas e principalmente os escritores que usam a sátira __ estão com medo de falar por causa da demonstrada vontade dos fanáticos muçulmanos em cometer violência contra seus oponentes. Existe uma espécie de "fatwa subentendida" contra os críticos ao islã.

Refuta a tese de que esta imigração é benéfica tanto economicamente quanto do ponto de vista do bem-estar social por causa de uma necessária injeção de juventude em um continente envelhecido. Na Alemanha, por exemplo, o número de residentes estrangeiros passou de 3 milhões para 7,5 milhões de 1971 a 2000, mas o número de estrangeiros empregados permaneceu em 2 milhões.

Descreve a confusão cultural e intelectual da Europa diante da imigração em massa. É difícil defender as regras européias e seus valores quando os próprios europeus estão re-escrevendo estas regras e re-estabelecendo estes valores.

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sábado, 24 de abril de 2010

FORGOTTEN CONTINENT The Battle for Latin America’s Soul.

Michael Reid, 2007

Michal Reid, um correspondente de longo tempo do "The Economist" na América latina argumenta que as nações da região estão começando a entrar em regimes democráticos verdadeiros e que se as antigas democracias (EUA e Europa) não passarem a se interessar realmente pelo continente serão preteridos pela China e Índia.

Depois de uma dramática crise na década de 80, época em que quase todos os países experimentavam alguma forma de ditadura, a continente deu uma guinada democrática e com exceção de Cuba passaram a experimentar regimes democráticos, não sem problemas muito devido à eleição de líderes fora das melhores condições, como é o caso de Chávez que ganhou poderes para re-escrever a constituição de seu país.

Defende uma aproximação sincera dos Estados Unidos envolvendo compromentimento para uma cooperação particularmente econômica, enfatizando o livre-comércio e dando suporte para construção de instituições democráticas.

Admirador do Consenso de Washington, uma mistura de austeridade fiscal, privatização e livre mercado para combater as crises de débito e hiperinflação da década de 80. Apesar da estabilização das economias da região, o processo não foi completo e a pobreza é uma realidade. O populismo ainda é um perigo na região.

Reid argumenta que as coisas boas da região não são reportadas adequadamente. Alguns países tentaram espalhar os benefícios da democracia em todas as classes sociais. Enquanto os EUA deram suas costas para a ação afirmativa, países como o Brasil adotaram-na. Programas que aliviam a pobreza foram adotados, como o "Oportunidades"no Mexico.

A Nova Ciência da Política

Eric Voegelin, 1951

Voegelin propõe o desvio da atenção das ciências políticas dos fenômenos de superfície (leis, instituições, doutrinas, sistemas, etc) para as experiências cognitivas das quais emergiram estes mesmos fenômenos. Toda ordem da sociedade expressa uma ordem cognitiva subjacente: é a tradução político-social da ordem da realidade tal como apreendida.

As noções de "verdade" e "realidade" que as sociedades apelam para se legitimar refletem uma vivência do cosmos, com todas as limitações temporais e históricas que se opõe à penetração completa da experiência do homem. Um número definido de esquemas da ordem _ divina, cósmica e humana _ se materializaram ao longo dos tempos nas instituições, obras-de-artes, leis, línguas, etc. Cada conjunto destes símbolos forma um pequeno universo formado pelo homem para expressar sua vivência imediata da ordem total e para orientar a construção de uma ordem político-social.

Voegelin lança o programa que iria nortear o restante de sua carreira: reconstituir a seqüência das ordens manifestadas ao longo da história, de modo a decifrar o enigma do presente à luz da escalada cognitiva que a ele conduziu.

Nesta obra, Voegelin procura também decifrar as ideologias de massa como sintomas de uma doença espiritual que remonta aos gnósticos dos primeiros séculos da Era Cristã.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Eros e a Civilização

Marcuse, 1955

É uma síntese entre Karl Marx e Sigmund Freud e expressa a visão de Marcuse sobre uma sociedade não repressiva, baseada nestes dois pensadores, antecipando os valores do movimento de contra-cultura dos anos 60.

O significado social da biologia-história não está na luta de classes, mas no combate entre repressão e nossos instintos. O capitalismo previne de atingir uma sociedade não-repressiva baseado na diferença fundamental de experiência do ser, da relação entre o homem e a natureza e entre as relações existenciais. Argumenta que a idéia de Freud de que a repressão é necessária para manter a sociedade está mal-fundamentada e que o eros é libertador e construtivo.

Criticando a obra de Freud "Civilization and its Discontents", em que o conflito entre os instintos humanos e a repressão da consciência social (superego), ou seja entre eros e civilização, é inevitável e resulta na história do ser, Marcuse argumenta que o conflito não se dá entre o trabalho e eros, mas entre o trabalho alienado e eros. Sexo só é permitido para os melhores (os capitalistas) e para trabalhadores apenas quando não atrapalha sua performance. Ele acredita que uma sociedade socialista pode mudar este quadro substituindo o trabalho alienado pelo "trabalho não-alienado libidioso" resultando em uma sociedade baseada na sublimação não-repressiva. Em outras palavras, Marcuse acredita que uma sociedade socialista pode ser uma sociedade sem a necessidade de performance pelo "pobre" e sem a forte repressão da sociedade de sua época.

A história da humanidade é a história da repressão. Marcuse conclui que a repressão biológica não é problema mas que nossos problemas iniciam-se pela "repressão adicional ou mais-valia" produzida pelas instituições históricas de nosso próprio período. O resultado é uma filosofia que mescla Freud e Marx.

domingo, 18 de abril de 2010

O Caminho Para Servidão (1944)

Neste livro, Hayek faz a transição para a filosofia política. É uma obra dedicada aos "socialistas de todos os partidos" e inicia uma produção intelectual que tem por eixo condutor o combate às doutrinas de Keynes.

Contrariando o ambiente intelectual de sua época, defendeu que os totalitarismos de esquerda e de direita têm uma matriz intelectual comum, a rejeição da tradição liberal do ocidente através da rejeição da autonomia do indivíduo, que está na base da civilização ocidental. A ascensão do nazismo e do fascismo, longe de serem uma reação ao socialismo, era seu corolário inevitável.

A principal mensagem de Hayek consiste em alertar para o fato que as democracias liberais enfrentam uma ameaça interna mais perigosas que as ameaças externas colocadas pelo totalitarismo. Esta ameaça consiste na gradual expansão do intervencionismo estatal, motivado pela aceitação das teorias coletivistas e pela invocação de ideais aparentemente nobres, como a noção de "justiça social".

Lembrando a observação de Hume de que a liberdade raramente é perdida de uma só vez, Hayek alerta que o avanço do intervencionismo estatal, resultado da sedução exercida por utopias coletivistas, acabarão por reduzir os cidadãos a uma condição de absoluta servidão. À medida que são levantadas (sempre por motivos aparentemente nobres) as barreiras à ação do Estado e que as noções de governo limitado e igualdade perante a lei são abandonadas, estabelece-se um caminho para o totalitarismo e para a negação dos direitos e liberdades individuais.

No livro, ele desenvolve um vasto conjunto de temas que vão desde a caracterização do totalitarismo até às razões que podem explicar a defesa do coletivismo por parte de muitos intelectuais, sem esquecer a relação entre segurança e liberdade e o funcionamento dos processos políticos.

Para Hayek, este caminho poderia ser invertido pelo poder das idéias. Era urgente recuperar e aprimorar de forma consistente a tradição liberal, promovendo os ideais do governo limitado, dos direitos individuais e da igualdade perante a lei.

(baseado em texto de André Azevedo Alves)

sábado, 17 de abril de 2010

Empty Candle: How Falling Birthrates Threaten World Prosperity and What to do About it

Phillip Longman

- O livro explora a questão da queda dos índices de natalidade não só nos países mais ricos, mas também nos países de renda média ou pobre, como a China. Quais as razões para esta queda de natalidade? Os altos custos de uma criança nos países ricos, incluindo educação universitária e a perda de renda de pelo menos um dos pais são fatores apresentados. Longman contraria a preocupação com a super-população e afirma que a tendência é o oposto, o declínio populacional.

- Existem implicações negativas para a sustentabilidade fiscal, crescimento econômico e coesão social. Longman defende, por razões práticas sobre as religiosas, o esforço em aumentar as taxas de natalidade.

- Defende que países europeus e os EUA adotem políticas como aliviar os pais de seguros sociais, considerando que eles estão fazendo um investimento para a futura viabilidade da seguridade social ao criar e educar filhos.

Culture Wars: The Struggle to Define America.

James Davison Hunter
1991

- baseado em estudos sociológicos e religiosos .
- A noção de uma nação profundamente dividida em torno de um core de valores morais e religiosos que se extende à política.

- um número crescente de "rótulos" em assuntos decisivos _ aborto, política de armas, separação da Igreja e do Estado, propriedade, uso recreativo de drogas, homossexualismo, censura _ estão definindo uma polaridade.

_ O problema não é o número de questões divididas, mas a divisão da sociedade sobre as mesmas linhas demarcatórias entre estas questões com se fossem dois grupos em guerra, definidos não por uma religião, etnia, classe social, afiliação política, mas sobre uma visão de mundo ideológica.

_ Estes dois impulsos são o Progressismo e Ortodoxo, uma dicotomia que foi adotada, sob diferentes rótulos, por outros pensadores.

O Capital Volume 1(em construção)

Parte I

Mercadoria

O mercadoria tem dois fatores, o valor de uso e o valor de troca. O primeiro refere-se ao valor que ele tem para o indivíduo em função de sua utilidade; o segundo sobre o valor que um produto tem ao ser trocado por outro. O primeiro é qualitativo e o segundo tem valor quantitativo. O valor de troca é apenas um retrato do seu valor. O valor de uma mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário e se modifica em função da produtividade do trabalho. Este valor não tem significado se não conjugar com o valor de uso. O valor só pode ser procedente quando a mercadoria tem valor de uso para outros e passa a chamar-se valor de uso social. Estes aspectos da mercadoria (valor de uso, valor de troca e valor) são separados, mas essencialmente conectados.

Marx discute a relação entre trabalho e valor. Se há uma variação na quantidade de trabalho necessária para produzir um artigo, o valor deste artigo irá mudar. O linho é hipoteticamente duas vezes mais valorizado porque é necessário mais tempo de trabalho social para criá-lo. O valor de uso de cada mercadoria é produzida pelo trabalho útil. Valor de uso mede a utilidade de um commodity, enquanto o valor é uma medida do valor de troca. Linho e fios possuem algum valor e este valor pode ser comparado porque ambos são produtos do trabalho humano.

A forma de valor ou valor de troca

Uma mercadoria vem em duas formas, uma forma natural e forma de valor. Só é possível saber o valor de uma mercadoria quando soubermos o trabalho humano utilizado em sua confecção. As mercadorias são trocadas umas pelas outras após seu valor ser decidido socialmente. É uma relação de valor baseada no valor de troca, uma comparação entre mercadorias. Algumas mercadorias só podem ser expressas por sua relação com outra porque não tem utilização determinada (ex: linho).

Por que o valor de troca parece ser algumas vezes diferente da agregação do trabalho humano? Marx entende que deve-se as circustâncias da sociedade capitalista, que estuda o valor da mercadoria por economistas políticos na forma de dinheiro. Marx chama isso de tetichismo, uma forma que uma sociedade gera uma idéia e depois, pela distância no tempo, esquece que a idéia é na verdade uma criação humana e social. A sociedade considera esta idéia como natural ou dada por Deus, considerando impossível sua alteração.

Dinheiro

O dinheiro é um meio de expressar valor (tempo de trabalho) e possui duas funções: medir o valor do trabalho humano e estabelecer um padrão de preço como quantidade de metal com peso fixo. Preço é o dinheiro-nome do trabalho objetivado em uma mercadoria, baseia-se na troca. O ouro é a medida de valor ideal porque é fruto do trabalho humano e é por si só uma mercadoria de troca.



Parte II

Fórmula geral do capital.

A troca é uma forma de metabolismo social onde mercadorias sem valor de uso transformam-se em mercadorias com valor de uso. Para o vendedor, a mercadoria tem valor enquanto que para o comprador, tem valor de uso. Neste processo de troca ocorre a alienação da mercadoria pelo envolvimento da mercadoria-dinheiro. Através do consumo, a mercadoria sai do estado natural para o estado monetário.

O preço de uma mercadoria é influenciado pelo movimento dos preços, a quantidade de mercadoria em circulação e a velocidade de circulação do dinheiro.

Existem duas formas de circulação do capital:

a) M - D - M (Circulação direta). Após vendido ( Mercadoria - dinheiro), a mercadoria atinge seu valor de uso e sai do mercado de trocas. É um sistema fechado e o vendedor vende um produto para comprar outro.

b) D - M - D (Geração de capital). É o inversdo do primeiro, o capitalista quer produzir dinheiro a partir do dinheiro através de uma transformação em mercadoria. Ele compra para vender. Culmina no refluxo, no retorno do dinheiro ao capitalista, acrescentando-se um adicional que é denominado mais-valia. Essencialmente troca-se dinheiro por dinheiro; o valor de uso deixa de existir em função do valor de troca. Para o dinheiro manter sua forma como capital, deve permanecer em circulação.

Na Parte II de O Capital, Marx explica os três componentes necessários para criar capital através do processo de circulação.

A maior distinção das duas formas aparece no resultado final. Durante o M-D-M, uma mercadoria vendida é substituída por uma comprada e o dinheiro age apenas como forma de troca. Esta forma facilita a troca de um valor de uso por um outro. Ao contrário, na D-M-D, o dinheiro é trocado por mais dinheiro pois uma pessoa que investe seu dinheiro em uma mercadoria, vende-a por mais dinheiro. O dinheiro retorna ao seu estado original e portanto não é gasto. A única função que exerce é sua habilidade em valorizar. O dinheiro é re-investido na circulação gerando a acumulação de riqueza monetária em um processo sem fim, gerando um mais-valia adicional.

Na sua forma pura, a troca de mercadorias é uma troca de equivalentes e não um método de incrementar valor e a contradição se revela através da criação da mais-valia, que, segundo Marx, não deveria existir se trocada de maneira justa. Para ele, a mais=valia não pode ser gerada a partir da circulação e portanto, alguma coisa deve ter acontecido nos bastidores sem ser visível. Marx descreve como o homem pode, através do trabalho, incrementar o valor de uma mercadoria, determinando o valor de troca da mercadoria. Sem interação com os donos de mercadorias(trabalhadores), os produtores de mercadoria(capitalistas) não conseguem aumentar o valor.

O capital não pode ser criado pela circulação porque transações iguais de mercadorias não cria mais-valia e transações desiguais podem alterar a distribuição de riqueza, mas o mais-valia continua inalterado, portanto o capital não pode ser criado pela circulação, devido ao seu valor fixo, mas também não pode ser criado sem a circulação, pois apenas o trabalho pode criar valor na fórmula geral.

Para solucionar o dilema, Marx investiga o poder de trabalho como uma mercadoria. O poder de trabalho depende de dois fatores: os trabalhadores devem oferecê-lo temporariamente no mercado, como donos de sua própria capacidade de trabalho e os trabalhadores não podem ter meios da própria subsistência. Se este poder de trabalho deixa de ser vendido temporariamente, os trabalhadores se tornam escravos e a dependência dos meios de subsistência garante uma larga força de trabalho, necessária para criar o capital.

O valor de troca, junto com o valor de uso de um trabalho sendo vendido, transforma o poder de trabalho em uma mercadoria. Este valor, entretanto, permanece sem uso, como outra mercadoria, a não ser que seja vendido, portanto, os trabalhadores buscam colocações temporárias para conseguir seus meios de subsistência, pois não o conseguem por si próprios. Uma relação peculiar se forma: os capitalistas necessitam dos trabalhadores para compor seus meios de produção em uma mercadoria vendável, e os trabalhadores precisam do capitalista para gerar o emprego para receber os meios de subsistência. O interesse privado de cada classe mantém o relacionamento e perpetua a sociedade capitalista.


Parte 3: A produção da mais-valia absoluta

A produção do mais-valia absoluta origina-se diretamente do processo de trabalho. Existem dois lados deste processo. De um lado existe o comprador da força de trabalho, o capitalista; do outro, o vendedor, o trabalhador. Para o capitalista o trabalhador possui apenas o valor de uso e compra dele sua habilidade em trabalhar e em retorno, o trabalhador recebe um salário para sua subsistência. O trabalhador transfere seu trabalho para a mercadoria na forma de valor.

O capitalista possui tudo no processo de produção: as matérias primas, os meios de produção e a força de trabalho (trabalhadores). No fim do processo, os trabalhadores não são donos do que produziram por seus esforços. O capitalista possui seu trabalho e é livre para vender a mercadoria para seu próprio lucro. Ele deseja vender uma mercadoria cujo valor é maior do que a soma dos valores utilizados para a produzirem. Seu objetivo é produzir não apenas o valor de uso, mas uma mercadoria; não apenas valor de uso, mas valor; não apenas valor, mas também mais-valia.

O objetivo do capitalista é produzir mais-valia, o que não é possível através de compra de matérias primas mais baratas pois isto afetaria o preço de venda pela concorrência. A única forma de originar a mais-valia é através da força de trabalho. O trabalhador vende mais do que precisaria para sua subsistência e esta diferença, entre o que recebe e o que forneceu, origina a mais-valia. A forma mais usual é fazer o trabalhador trabalhar mais horas do que precisaria, muitas vezes chegando a 16 horas por dia e levando-o à exaustão.

Desta forma, ao final do processo, ele acumula capital. Existem duas partes de um dia de trabalho, a primeira é aquela que o trabalhador precisa para gerar seus meios de subsistência; a segunda parte é o tempo de trabalho adicional, que o capitalista consegue extendendo a jornada de trabalho. O valor de trabalho adicional não produz valor para o trabalhador, mas produz valor para o capitalista. A taxa de mais valia é a taxa de exploração.

Este processo gera um conflito entre o capitalista e o trabalhador. O capitalista argumenta que tem o direito de extrair tudo o valor de um dia de trabalho, pois pagou por isso. O trabalhador exige o valor integral de sua própria mercadoria. O capitalista vê trabalhar menos como um roubo de capital e o trabalhador vê trabalhar muitas horas como um roube de seu trabalho. Esta luta de classes pode ser vista pela história.

O 18 Blumário de Luis Bonaparte

- Trata-se da interpretação do ponto de vista da concepção materialista da história do golpe de Luis Napoleão em 2 de dezembro de 1851. É uma das principais fontes para entender a teoria marxista do estado capitalista.

- 18 Brumário refere-se ao dia 9 de novembro de 1799 quando Napoleão Bonaparte fez-se ditador mostrando que a história repete a si mesmo, primeiro como tragédia, depois como farsa. A idéia da repetição era de Hegel, Marx acrescentou a tragédia e farsa.

- Como uma revolta de classe na França criou circunstâncias e relações que tornaram possível que um medíocre grotesco fizesse o papel de herói.

- O homem faz sua própria história, mas ele não a faz como deseja; ele não faz a história em circunstâncias selecionadas por si mesmo, mas sob circunstâncias que já existem, transmitidas pelo passado.

- O livro tornou-se fonte de estudos sobre a natureza e significado do fascismo.

A Ideologia Alemã

- Os homens destinguem-se dos animais assim que começam a produzir seus meios de subsistência. A natureza dos indivíduos dependem das condições materiais que determinam sua produção.
- Quanto mais desenvolvidas as forças produtivas de uma nação, maior foi o grau de divisão do trabalho. Existe uma ligação direta da divisão do trabalho e as formas de propriedade.

- A classe dominante, ao dominar a força material da sociedade, domina a força intelectual da sociedade. Eles regulam a produção e distribuição das idéias através das eras. A medida que as classes dominantes mudam com o tempo, as idéias mudam e a nova classe dominante deve insistir em impor à sociedade suas próprias idéias para tornarem-se universais. O sistema durará enquanto a sociedade for organizada em torno da necessidade de uma classe dominante.

- Moralidade, religião, metafísica, todo o restante da ideologia e sua correspondente forma de consciência não possuem independência; eles não possuem história ou desenvolvimento; mas homens, desenvolvendo a produção material alteram, durante sua existência real, o pensamento e o produto de seu pensamento.

- Esta abordagem permite cessar de entender a história como uma coleção de fatos mortos ou uma atividade de sujeitos imaginativos.

Teses sobre Feuerbach

- Crítica às teses de um filósofo hegeliano Ludwig Feuerbach.

- Defesa da ação política dos filósofos. Estes não deveriam se contentar em interpretar o mundo, mas em modificá-lo.

- Crítica às teses de um filósofo hegeliano Ludwig Feuerbach.

- Defesa da ação política dos filósofos. Estes não deveriam se contentar em interpretar o mundo, mas em modificá-lo.

1. O principal defeito do materialismo existencialista __ no qual Feuerbach é incluído _ é que o objeto é concebido apenas como objeto ou na forma de contemplação e não como uma ação humana ou subjetiva. A parte ativa, em oposição ao materialismo, é desenvolvida pelo idealismo, mas apenas de maneira abstrata. Feuerbach deseja objetos sensíveis, diferenciado de objetos concretos, mas não concebe a ação humana como uma ação objetiva. Portanto, ele não compreende o sentido de revolução e atividade "crítica-prática".

2. A questão da verdade objetiva ser um atributo do pensamento humano não é uma questão teórica, mas prática. O homem deve provar a verdade na prática.

3. A doutrina materialista considera o homem como produto das circunstâncias. Portanto, é modificado à medida que as circunstâncias mudam. No entanto, ignora que o homem modifica as circunstâncias. Esta coincidência de papéis só pode ser concebida e entendida racionalmente através da prática revolucionária.

4. Feuerbach começa com a duplicidade de um mundo religioso imaginário e o mundo secular. Seu trabalho consiste em revolver o mundo religioso em bases seculares. Ele ignora o fato de após completar seu trabalho, o ponto principal continua pendente. A base secular só se estabelece como reino independente pela contradição intrínseca de sua base secular. Por exemplo, quando a família terreste é descoberta como o segredo da família sagrada, a primeira deve ser aniquilada teoricamente e na prática.

5. Feuerbach, não satisfeito com o pensamento abstrato, deseja contemplação sensitiva; mas não concebe o sensitivo como uma prática, uma atividade humana-sensitiva.

6. Feuerbach resolve a essência religiosa na essência humana. Mas a essência humana não é uma abstração inerente a cada individuo, é um produto das relações sociais. Feuerbach que não entra na crítica da real essência é obrigado a:
- abstrair do processo histórico e definir o sentimento religioso por si mesmo, e pressupor um homem individual isolado e abstrato.
- A essência portanto só pode ser concebida como espécies, como generalidade interior, que liga apenas os indivíduos de forma natural.

7. Feuerbach não percebe que o sentimento religioso é um produto social, e que o indivíduo abstrato que ele analise pertence em realidade a uma forma social particular.

8. Toda vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que que levam a teoria ao misticismo encontra sua solução racional na prática humana e na compreensão dessa prática.

9. O ponto mais alto do materialismo contemplativo, isto é, o materialismo que não compreende mundo sensível como atividade prática, é a contemplação de um indivíduo isolado na sociedade civil.

10. O ponto de vista do antigo materialismo é a sociedade civil; o ponto de vista do novo é a sociedade humana ou a humanidade socializada.

11. Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.

The Man Who Was Thursday

- Trata-se de uma estória de detetive completada por poesia e política.

- Gabriel Syme é um policial e poeta que infiltra-se em uma organização anarquista e termina por ser eleito um de seus líderes.

- O paradoxo começa com a existência de uma hierarquia governamental em um grupo que deseja abolir qualquer forma de governo. O motivo da aleição de Syme é que ele é um rebelde contra rebelião.

- Um policial explica para Syme que existem dois tipos de anarquistas, os reais e os inocentes. Estes acreditam que as regras devem ser quebradas por serem ruins; aqueles buscam a morte. Eles dizem que a humanidade deve se libertar mas significa que a humanidade deve cometer suicídio. Quando falam de um paraíso sem certo ou errado, querem dizer a sepultura. O verdadeiro anarquista deseja a cultura da morte.

- O principal mistério é descobrir quem é domingo, o principal líder dos anarquistas. Há uma analogia com o livro da Revelação e o apocalipse.

- O livro não deve ser comparado ao Revelação, mas sim ao livro de Jó. Para Chesterton este era o maior enigma de toda a literatura.

- Chesterton apresenta sua filosofia social. É senso comum que um homem com propriedade não pode ser um anarquista. Existe outra classe que deseja a destruição da sociedade por acreditar que podem viver sem regras, trata-se dos muito ricos. "The poor object to being governed badly. The rich object to being governed at all.”

Ortodoxy

- é o tronco para outras obras de Chesterton. Uma obra-prima da retórica.

- "The mere pursuit of health always leads to something unrealthy"

- Cada frase exige uma reflexão profunda, tamanha a riqueza.

- O principal argumento do livro é que a teologia cristão (resumida no ato credo dos apóstolos) é a maior fonte de energia e ética.

- A narrativa do homem que parte da Inglaterra de navio para descobrir uma nova terra e acidentalmente volta, sem perceber, para sua terra natal e começa a ver as coisas familiares como se fosse pela primeira vez é uma metáfora para sua odisséia espiritual, de como ele partiu do cristianismo para descobrir as verdades e quando encontrou-as descobriu que era o próprio cristianismo.

- A única parte da teologia cristã que pode ser provada é o pecado original. Os filósofos que negam esta verdade terminam por abraçar o desespero e a auto-destruição. Vista por fora, a doutrina cristã parece ser rígida, mas por dentro possui uma liberdade abundante e a alegria eterna. Este é o grande segredo da fé cristã.

- É fundamental entender a doutrina corretamente, de maneira ortodoxa; qualquer divergência da verdade deve ser confrontada firmemente.

Everlasting Man

- O problema dos críticos da Igreja é que eles vêem a Igreja muito de perto, sem conseguir uma perspectiva de sua grandeza e papel histórico. Para analisar a Igreja, é preciso dar passos atrás e conseguir contemplá-la em toda sua grandeza. Eles não conseguem ver a fotografia grande, apenas a pequena os afeta.

- É uma espécie de refutação ao livro de Wells, The Outline of History que discute os dois principais pontos da história: o papel único da criatura chamada homem e do homem chamado Cristo.

- A única coisa que se sabe dos primeiros homens, é que eram artistas. A arte é a forma com que homem mostra que é um criador, ao mesmo tempo que é criatura. Quanto mais se observa o homem como um animal, menos se entende o que é a humanidade. A religião é outra exclusividade do homem.

- A religião é tão antiga quanto a civilização que é tão antiga quanto a história. É a religião que provoca o avanço de uma civilização pois é ela que trata do significado das coisas, com o desenvolvimento e interpretação dos símbolos, que provoca o avanço da comunicação e conhecimento, artes e ciência.

- Ao estudar uma civilização vem a decadência. O homem não se cansa do mal, mas do bem. Eles param de adorar Deus e passam a adorar ídolos, suas imitações mal-feitas de Deus. Começam a dorar a natureza e se tornam anti-naturais. Adoram sexo e se tornam pervertidos. Adoram homens e se tornam desumanos.

- Em Belém ocorre o milagre, o céu encontra a Terra. O ensinamento de Cristo é tão difícil hoje quanto foi no passado pois não se refere a nenhuma ordem social, é transcendente à própria humanidade. Deus se faz presente no mundo e se descobre sem moradia.

- Os críticos tentam criar um Cristo diferente das escrituras, sejam apontando-o como socialista, pacifista ou louco, escolhendo trechos do evangelho convenientes a suas pretensões. Deve haver algum mistério para se tirar tantas personalidades de um único homem.

- A maior impressão de Cristo é que ele não veio ao mundo para ensinar. Ele não procurou afirmar-se como sábio, mas como a própria expressão da divindade. Cristo afirmou ser Deus.

- A vida de Cristo é o caminho para a crucificação mostrando que o mundo não pode salvar a si próprio.

- Como pode a execução de um líder de uma minoria em um local remoto do mundo tornar-se o evento central da história da humanidade.

- O dogma central do cristianismo é a morte de Deus, que por um instante Ele perdeu sua divindade ao ser sacrificado por si mesmo. É um mistério maior que a própria criação.

- A força do cristianismo vem do fato de poder ser derrotado e voltar à vida novamente, pois é inspirado por um Deus que soube retornar da sepultura.

What's Wrong With The World

- Chesterton adverte para uma sociedade que ainda viria onde haveria uma grande disparidade entre ricos e pobres, as famílias estariam ruindo, as escolas em caos, as liberdades básicas sobre assalto.

- Embora se concorde com o que está errado e na visualização do que é bom. É a falta de ideais que tornam a reforma possível.

- O idealismo é o senso comum e Chesterton identifica o idealismo no cristianismo. Este ideal nunca foi experimentado realmente porque é considerado difícil. É o ideal da família e da casa, do ideal da família na história. As leis devem ser voltadas prioritariamente para defender a família e os valores morais da comunidade. A verdade ficou no passado e ao invés de procurar corrigir os rumos e retomar os valores esquecidos, as pessoas agrupam-se ao redor dos "progressistas", justamente os que não aceitam estes ideais. Os progressistas inventam novos ideais porque são temerosos de adotar novos ideais. Eles olham para o futuro com entusiasmo porque estão com medo de olhar para trás.

- O homem comum tem dois grandes adversários: o grande governo e o grande negócio. Estes conspiram para tirar sua propriedade, dignidade e independência.

- A casa é o único lugar de liberdade. É a expressão da democracia, a única coisa que ele pode moldar à sua imagem. Quando o homem comum se torna refém do grande governo e grande comércio, ele passa a ter uma enorme pressão sobre sua família. Uma sociedade está em perigo quando o homem comum perde a religião, casa, família e não tem mais certeza do que quer.

- "Se uma coisa merece ser feita, merece ser mal feita". Defesa do amadorismo, da pessoa que faz uma grande variedade de coisas por amor ao invés de profissionalismo. O maior exemplo é a mão que tem explicar todo o universo para uma criança. Quando a mão é colodada fora de casa para trabalhar para o grande governo ou grande negócio (Hudge e Gudge), a criança é abandonada a ser criada por especialistas. Religião, paternidade e bom senso são banidos da sala de aula e os conhecimentos são ensinados em um vácuo. As pessoas sabem cada vez mais sobre cada vez menos.

Heretics

- Existe uma relação entre a tolerância e a liberdade religiosa. A "tolerância" está sendo ligada à fuga dos assuntos polêmicos, principalmente a religião. Neste sentido, a "tolerância" leva a um paradoxo, uma incompatibilidade com a liberdade. O homem "tolerante" está pronto para discutir o tempo, mas passa longe da religião como se esta fosse um assunto sem importância.

- É absurda a crença de que a filosofia e a religião de um homem não importam. Não se pode fugir de nossas crenças mais profundas, nossa visão do mundo, pois esta influi em tudo que pensamos ou expressamos. Religião nunca é irrelevante.

- É uma defesa das antigas verdades diante do ataque dos heréticos modernos. Chesterton só entendeu o cristianismo quando teve que defendê-lo dos anti-cristãos.

- Heresia é pegar uma meia-verdade que é exagerada a ponto de comprometer a verdade completa. Isto acontece, por exemplo, quando se coloca a ciência e progresso em plano elevado em relação a fé, tradição e ideais permamentes.

- É uma crítica a diversos autores da época que professavam em suas obras heresias no sentido entendido por Chesterton, tais como relativismo moral e artístico, egoísmo e culto do sucesso, ceticismo, morbidez, etc. É a parte negativa enquanto Ortodoxia é a parte positiva de suas idéias.

- Os heréticos jogam uma sombra sobre a verdade e o simples fato de ter que defender a verdade mostra que ela não é mais óbvia pois foi escondida por mentiras. A primeira mentira é que a verdade não importa.

- Cristo escolheu para edificar sua obra não um brilhante como Paulo ou um místico como João. Escolheu um homem esnobe e covarde, Pedro. Escolheu um homem. Todos os impérios pereceram por uma fraqueza intrínseca de terem sido fundados por grandes homens e entre grandes homens. O cristianismo histórico foi fundado por um homem fraco e justamente por isso é indestrutível. Nenhuma corrente é mais forte que seu elo mais fraco.