segunda-feira, 26 de abril de 2010

Anamnesis

Eric Voegelin, 1966

A humanidade passou uma boa parte do seu tempo em desordem social, cultural e filosófica que resultou invariavelmente em guerras, fome e pestes. Por outro lado, experimentou períodos de construção social ordenada. Infelizmente, estes períodos foram de curta duração e tipicamente seguido por desconstrução da realidade por seres humanos desorientados.

O homem possui inteligência e habilidade para a razão. Ele busca a verdade da realidade, a abertura para o questionamento. Os gregos possuíam dois termos para razão, nous e ratio: nous, é a busca não apenas do conhecimento mas o conhecimento para o divino, o transcendente; ratio é o fator direcional da tensão da consciência como a busca por uma base que a ordene e dê estrutura como uma pesquisa aberta. Juntos, estes atributos intelectuais ordenados para a divindade inerentes ao homem complementam-se, onde ratio é a resposta existencial do nous para a questão. Este desejo intrínseco do homem, derivado da mistura da razão e revelação (o logos), em sua experiência exitencial da tensão entre o imanente e o transcendente, nos leva a perguntar, a questionar.

Anamnesis é o fundamento do pensamento de Voegelin sobre a questão da consciência humana, mas é no contexto de suas várias discussões que as questões relacionadas com Deus, homem, lei, política, psiciologia e história são encaminhadas. Lendo os ensaios que compõe o livro que o leitor recebe a iluminação para compreender o trabalho de Voegelin. Estas pequenas vitórias intelectuais são importantes porque fornecem energia para continuar a jornada de superar a montanha linguística que Voegelin colocou na frente dos leitores. Nestes trabalhos encontramos a consciência do ser humano completo, para sempre tentado pela tentação da revolta egoísta, da deformação da filosofia-escolar que não permite o questionamento nem permite o debate, e o problema da existência contemporânea deformada e restritiva.

Voegelin explica em um dos ensaios o surgimento do nous, o resultado do esforço filosófico dos gregos para analisar a desordem social de sua época e o entendimento da auto-consciência, argumentando que este foi um evento épico que constituiu o significado da história de deu nascimento ao conceito de filósofo.

Dar razão à tensão de ordem e desordem de nossa existência, sob a luminosidade do diálogo noético e discurso é o grande feito dos filósofos clássicos. Esta época estabeleceu a vida da razão na cultura ocidental em uma continuidade até o nosso tempo; não pertence ao passado, mas a época em que vivemos. Voegelin não estava apenas aberto à crítica, mas convidava-nos, e em mais de uma ocasião seu trabalho foi "indeterminado" por novas descobertas. Ele abominava a ideologia e nunca tentou construir um sistema fechado que fosse protegido contra críticas; seu único objetivo era olhar adiante para uma nova oportunidade de descoberta e explicação. Voegelin dedicou sua vida a buscar a verdade das coisas.

Nenhum filósofo, certamente no século XX, explicou melhor a deformação perniciosa da ideologia da era pós-moderna, e nenhuma coleção de ensaios é melhor preparada para apresentar ao leitor curioso o essencial de Voegelin, um homem que compreendeu o significado da alienação, o afastamento do homem da presença sob Deus, um conceito que estabeleceu os fundamentos das desordens do homem.

Fonte: http://www.readysteadybook.com/BookReview.aspx?isbn=0826207375

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